sábado, 28 de julho de 2012

[Yacamim Livro 1] Capítulos 6 e 7

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Boa noite, galera! Espero que estejam tendo um ótimo fim de semana!
Continuamos aqui com a saga de Victor. Um local secreto surge... boa leitura!






CAPÍTULO 6

Os cabelos batendo no rosto ao sabor do vento acordaram e devanearam Vic, paradoxalmente, ao mesmo tempo. Sua atenção foi imediatamente para o sonho com os campos de trigo, os cabelos passeando na ventania.
Vic estava no banco do conversível. Lá estava Dan ao seu lado, vivo, respirando, o que era um alí- vio. Ao volante estava o misterioso e providencial intruso do encontro entre Victor e Vertigo. Se era possível ter certeza de algo, pensou Vic, era que nada de bom sairia daquela sala soturna.
— Quem é você?
Foi a primeira pergunta que Vic conseguiu elaborar, sentado no banco traseiro do carro, com nada além de estrada imersa na escuridão da noite para todos os lados.
— Não se preocupe, haverá tempo para introduções logo.
Agora que observou melhor o seu salvador, Victor percebeu que ele estava usando um máscara de lycra, que encobria totalmente o seu rosto. Mediante o conselho de esperar e o carinho que o vento fazia em seu rosto, em conjunto com as fortes emoções do dia, Vic logo fechou os olhos e adormeceu.
— Vamos, já chegamos.
Não era o motorista que lhe falava, mas sim Dan, posto ao seu lado, sem mais cordas nos pulsos ou mordaças na boca. Vic o abraçou, era bom ouvir uma voz familiar em meio a tantas desventuras.
Desceram do carro. Estavam diante de um velho casebre de madeira, parcialmente escondido pela mata. O próprio veículo estava coberto com grossas folhas de palmeira, praticamente invisível. A estrada não estava a vista, e o único som perceptível era o de grilos e cigarras na densa floresta que os envolvia.
— Vamos logo, os dois.
O chamado veio de dentro do casebre. Os amigos se encaminharam para a porta. Adornado na madeira desgastada, havia um sol corcoveado por duas grandes gotículas de água.
— Olhe Vic... — começou Dan, sua expressão séria e pálida por trás dos grandes e expressivos olhos verdes. — Há muitas coisas acontecendo, imprevistos...
Victor achou que sabia aonde o amigo queria chegar, mas não sentiu o menor desejo de ajuda-lo. Era a segunda vez naquela noite que alguém lhe dizia que não sabia de muitas coisas, e preferiu ficar em silêncio do que explodir em desabafo, despejando a enxurrada de mágoas e dúvidas que iam dentro dele. Simplesmente assentiu, esperando que Dan continuasse.
— Sabíamos, é claro, que a Companhia estava o tempo todo somente um passo atrás de nós, mas acredito que fomos confiantes demais em achar que o banco era impenetrável. De algum modo, eles perpassaram os encantamentos e...
— Encantamentos? — Ele precisou se controlar para não rir do amigo, que estava levando a con- versa profundamente a sério. — Que papo é esse?
— Olhe Vic... Há muito, muito mais para ver e viver do que você viu em Mauá. Especialmente para você. — Ele levantou o olhar sério, impedindo Victor de se manifestar, pois o rapaz já estava abrindo a boca para falar novamente. — Você ouvirá tudo que sabemos. Preciso, antes, lhe dizer o básico, e pedir... Bem, lhe pedir desculpas.
Era o que Vic achou que aconteceria. Ele amarrou a cara e olhou para o lado, parecendo subita- mente entretido por um vaga-lume que fazia seu tradicional espetáculo de luzes ali perto.
— Eu imagino como você está se sentindo — Dan parou, pôs uma mão na testa e riu baixinho. — Aliás... Não, eu não faço idéia. Mas posso supor... Acordei antes de você no carro e já fui posto a par dos fatos. Tem sido um dia doloroso e cheio de desafios e descobertas para você, posto como foi de cabeça em uma realidade que você desconhecia. Sei que parte desse desconhecimento... — Vic olhou feio para ele — tudo bem, a culpa é naturalmente nossa... mas consequências terríveis poderi- am acontecer se você crescesse dentro dessa realidade. Era preciso que você vivenciasse tudo isto.
Ouvir isto não ajudou a melhorar o humor de Victor. Ouvir coisas do tipo vindas de um desconhe- cido homem careca de expressão maldosa era ruim. Ouvir de seu melhor amigo algo semelhante o fez se sentir ainda pior. Dan viveu com ele durante toda a infância, se conheciam perfeitamente bem. Agora Vic se via nadando em um oceano de novidades intocadas até então, e no meio da mai- or das ondas estava seu melhor amigo, climatizado e desfilando a sabedoria de um surfista local. Ele sempre soube, e nunca disse uma palavra. Se soubesse de tudo... Se soubesse, talvez seu pai...
— Vic...? — A voz de Dan o despertou das dores que estava remoendo, e ela estava um tanto la- crimosa. — Eu sei que é quase como pedir o impossível, mas por favor, busque conter a sua mágoa anterior e me ouvir. É crucial que você o faça, para que entre em nosso meio.
Victor não o encarou. Eles não tinham sequer trocado farpas, mas ele se sentia como se tivesse discutido em altos brados durante horas. Não queria pensar em mais nada, mas fez o esforço. Fe-
chou os olhos, respirou e inspirou profundamente, e olhou para os verdes olhos do amigo, que esta- vam marejados. Isso não fez com que se sentisse melhor. Se Dan omitiu tudo isso do melhor amigo, que agora se mostrasse forte e corajoso. A fraqueza não iria amaciar os ânimos de Victor.
— A Hélio-Hidra segue sendo uma religião desconhecida, e não é por acaso. — Ele falava rapida- mente pela urgência de entrarem no casebre, ou o mais rápido que conseguia com a voz embargada como estava. — Novos membros vem apenas pelo laço de sangue próximo, filhos, netos...
Ele esticou a mão e alisou as marcas na porta.
— Todo lar adornado com este símbolo é um templo e uma filial da HH. Assim sendo, fortes encan- tamentos a protegem, mais complexos e numerosos do que os que protegiam o banco. Isto sempre somado ao fato de serem em locais de pouco ou nenhum acesso, muito bem escondidos e vigiados 24 horas por dia. Mas isto não deve ser problema algum para você, mesmo que seja o único em um raio de quilômetros que não pertence à Hélio-Hidra.
— E por quê? — indagou Victor.
— Você verá, assim que tentar abrir a porta.



CAPÍTULO 7

Apenas uma porta comum. Era nisso que Victor tentava pensar enquanto levava a mão à maçane- ta. A última porta que tentou abrir trouxe dor, morte e rapto, menos de 24 horas atrás... Ele só espe- rava que desta vez o resultado fosse diferente.
Ao tocar a maçaneta, percebeu que ela tinha nada de comum. Era claramente feita de pedra, mui- to polida e lisa, quase sem atrito. Mesmo exposta ao tempo, o objeto tinha um tato peculiar, pois não estava quente nem frio.
Vic experimentou abrir a porta de uma vez, e muitas coisas aconteceram ao mesmo tempo. Sentiu um formigamento tremendo em sua cabeça, como algo ansiando por ser libertado. O símbolo da Hélio-Hidra brilhou em cores vivas, o amarelo do sol e o azul-oceano das gotas de água. A maçaneta esquentou por um momento a mão dele, mas logo em seguida retornou ao normal. Um ar denso passou por ele, arrepiando seus cabelos no momento em que o novo ambiente surgiu diante de seus olhos.
Recuperado do susto, o rapaz olhou através da porta. Esperava ver esplendor e beleza. Um salão ricamente adornado, tapetes persas pelo chão, poltronas de couro confortáveis. Algo que rivalizasse com o luxo discreto mas onipresente da sala de Vertigo. Talvez por conta de sua expectativa, Victor ficou chocado. Tal qual o exterior do casebre, o local estava aos cacos. Estava parado na entrada de uma cozinha pobre e praticamente vazia. Era um cômodo conjugado, percebeu, pois via uma mesi- nha e uma cama logo adiante e a única divisão da casa levava ao banheiro. A estrutura lhe parecia frágil, propensa a enterra-los em madeira e terra a qualquer momento. Onde estavam as pessoas que os chamaram para entrar, inclusive o intruso que o libertou das garras de Vertigo?
Dan passou por trás dele, sem parar um momento sequer para observar o casebre abandonado. Adiantou-se para a mesinha, empurrando-a com agilidade para o lado. Olhou então para Vic, e fez sinal para que ele se aproximasse.
Ora, ali estava o símbolo novamente. A mesinha escondia a marca da HH, e leves fissuras no piso indicavam a presença de uma passagem. Afinal, aquele não era de fato o local da reunião.
Apenas lhe peço para que não me interrompa.
Vic não entendeu o que o amigo quis dizer, mas assentiu. Dan então, de súbito, ergueu ambos os braços, fez um movimento circular anti-horário, e terminou com as mãos alinhadas com o rosto, na altura do peito, a distância de uma bola de futebol entre elas. Como em resposta ao gesto, para a perplexidade total de Victor, o símbolo brilhou exatamente como o da porta. Em seguida, o trecho recortado do piso não se mostrou um alçapão, como Vic pensou que aconteceria, mas sim começou a descer e, por fim, com um clique, parou.
Ali, com o símbolo ainda brilhando, estava uma escada imponente, toda formada de mármore, exceto pelo trecho de madeira engastado com a marca reluzente.
Vamos? perguntou Dan, sorrindo para ele.
Ahn? Ah, sim, vamos.
Os dois foram descendo os degraus, Dan à frente. A iluminação vinha da própria escada, peque-

nas luzes nas laterais de metros em metros. O trajeto era em espiral e descia lentamente, dando a oportunidade aos membros da Hélio-Hidra de observar o ambiente durante o caminho: o teto baixo e habilmente cavado, dando a sensação de firmeza e estabilidade oposta ao casebre logo acima; as pinturas na parede, todas remetendo ao sol, à água ou rostos de homens e mulheres, certamente importantes dentro do grupo. Depois de um tempo, percebeu que havia desenhos nas duas paredes, ao passo que ele vinha observando apenas a da esquerda.
Lamentava os detalhes perdidos quando o percurso acabou e chegaram à uma porta. Esta tinha novamente o símbolo da HH, e era alta e lustrosa. Não houve tempo para mais observações, porque a porta começou se moveu. Alguém a estava abrindo pelo outro lado. 




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