sexta-feira, 6 de julho de 2012

[Yacamim Livro 1] Prólogo e Capítulo 1

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Boa tarde, meus caros!
Sexta me parece um bom dia para postar aqui os capítulos do livro. Caso seja um dia ruim, me avisem, pois a princípio postarei posts originais no início da semana e um capítulo do livro às sextas-feiras.
Antes de começar, vamos explicar do que se trata o livro, certo? Yacamim é um livro infanto-juvenil. Victor é um garoto simples do interior, mas aos quatorze anos de idade, sua vida muda ao receber uma visita inesperada à porta de casa. Em uma sucessão de eventos intrigantes, Vic conhece perdas e conquistas, e descobre verdades sobre clãs escondidos e misteriosos, planos que podem derrubar toda a América e um potencial em si mesmo até então desconhecido por ele, mas previsto e aguardado por muitos. Poderá Vic se preparar e derrotar a poderosa Companhia antes que esta domine a América?
E aí, animados? Então, boa leitura!


PRÓLOGO


Pouco a pouco ia se embrenhando na mata. Logo seus passos abafados pela grama alta encober- ta pela neblina densa e o farfalhar e cortar dos galhos ante a sua passagem era tudo o que podia ouvir. Ele parou por um momento, diante de uma coroa brilhante que o sol formava no chão através das brechas das copas das árvores.
"Sim, acho que finalmente consegui despista-los...". O homem tinha estatura mediana, barbas e cabelos muito volumosos e malcuidados, olhos muito verdes e vestes puídas e rasgadas em vários cantos. Podia ter sido um homem bonito, mas tinha agora as faces encovadas e uma expressão vo- raz no rosto, de alguém com a adrenalina nas alturas e uma obsessão doentia de uma tarefa por fazer.
"Logo poderei mandar a mensagem", pensou consigo mesmo. E então ele viu: um local, já no co- ração na densa floresta, onde a grossa camada rasteira de névoa brilhante e singular rareava e, di- ante de um pequeno patamar de pedra e uma flor do campo, cessava completamente.
Agora convicto de que conseguiria realizar a tarefa com sucesso, aproximou-se em calada venera- ção, ajoelhando sobre a pedra polida diante da flor. Embora diante da luz direta do Sol, a pedra não estava nem quente nem fria.
Então, de súbito, o homem elevou os dois braços, fez um movimento circular com eles como se segurasse uma bola, e terminou com as mãos viradas uma em direção a outra, a certa distância, na altura do coração. Enquanto este gesto era formado, ele disse: "Perante vós, cala-se o mais supremo dos supremos. Passo adiante a mensagem, o manuscrito começou o seu trabalho.".
Mal terminou estas palavras, um grito ecoou muito próximo à clareira. "ELE ESTÁ AQUI!!". Outro seguiu-se a este, de uma voz mais grossa e muito mais autoritária: "MATE-O, AGORA!".
Ferris, ainda ajoelhado na pedra, deu um sorriso, o primeiro em muitos meses. Era tarde agora, estava feito. E foi ainda sorrindo que abraçou a escuridão que o engolfou.


CAPÍTULO 1


A brisa noturna trazia um cheiro de paquera, afogueado pelo aroma da Dama da Noite. Victor se animou com isso logo que colocou os pés para fora de casa. Percebeu que aquela noite de Mauá tinha dono, e iria lhe encher de alegrias.
Ele não havia economizado nos preparativos para esta noite. Colocou suas melhores roupas, pas- sou seu melhor perfume, fez a barba e penteou bem os cabelos. De cotidiano, apenas a pulseira de conchas, feita à mão por ele, e que nunca deixava de usar. Olhou-se no espelho. Sua pele morena contrasta de forma elegante com a roupa clara, os cabelos lisos e muito pretos partidos ao meio, o rosto de feições indígenas o encarando de volta sorridente no espelho, que sempre fazia sucesso com as meninas. Do alto de seus quatorze anos, ele já estava acostumado a zelar pela casa e pas- sar o dia sozinho. O pai, que trabalhava em uma pousada na parte turística da cidade, não havia chegado ainda do trabalho quando Victor inspirou mais uma vez a sorte no ar e pôs-se a caminhar.
Meia hora depois estava entrando na rua central. Era apinhada de bares, restaurantes e a única boate da cidade, facilmente percebida pela horda de jovens à porta esperando para entrar. O som de risadas e da batida da música enchia o ar nas proximidades da casa noturna.
Victor não estava interessado em comida. Tinha destino, e este era a porta negra que levava dire- tamente à danceteria. Como qualquer cidade pequena, todos se conheciam, e Victor tinha a fama de badaladeiro. Fequentador assíduo do local, cumprimentava pelo nome todos os que trabalhavam e visitavam a casa, e muitos diziam que almejava se tornar dono do lugar.
As pessoas foram abrindo passagem para ele, soltando cumprimentos e elogios, saudações e cor- tejos. Logo adentrou a boate, e ia se encaminhando direto para o bar...
— Você está atrasado, Vic.
Ele abriu um sorriso de pronto e se virou para olhar. Reconheceria aquela voz em qualquer lugar. — Dan!!
A alegria estava estampada na fisionomia do rapaz quando correu e deu um grande abraço em

seu velho amigo, parado a um canto, de modo que Victor não o viu quando entrou.
— Como fez para se livrar dos engomadinhos? — perguntou Victor.
Dan era um rapaz alto, de cabelos encaracolados e castanhos que batiam em seus ombros. Tinha

olhos verdes firmes e vivos, que passavam sempre uma sensação de que ele estava escaneando o lugar e todos em que seus olhos batessem. Estava com uma expressão cansada, mas seu sorriso tinha a vontade de badalar brilhante como as luzes coloridas da pista de dança.
— Bom... Parece que o pessoal do banco está com um problemão daqueles lá no Rio, de modo que ninguém está preocupado hoje com Mauá. Os malotes vão ter que esperar até amanhã.
— Caramba, Dan... O que houve? — Uns malucos assaltaram a sede.
Victor olhou o amigo com uma expressão de total assombro. — Quê?? Mas...
Dan fez com um olhar um sinal para o amigo se calar.
— Te conto mais tarde, em outro lugar.

Victor não entendeu o porquê da súbita discrição, mas preferiu não comentar. Logo esqueceu o assunto, e os dois bons amigos em pouco tempo estavam lançando cantadas em sorridentes garo- tas no canto da boate.


***

Os rapazes voltaram andando lado a lado. O sol começava a vencer a noite e raios de luz tingiam as nuvens próximas ao horizonte de amarelo e laranja. O único som vinha dos passos dos dois no cascalho, subindo e subindo, à medida que a morada se aproximava e o centro, já quase vazio, fica- va para trás.
— Está feliz com a vida, cara? Você parece meio abatido... — comentou Victor, espiando o amigo com o canto dos olhos.
— Que papo é esse, Vic? Eu peguei muito mais gatas do que você! — desconversou Dan, dando aquele sorriso que enganaria qualquer um. Exceto Victor, que o conhecia bem demais.
Os dois eram amigos desde a estranha chegada de Dan na cidade. Um furgão metálico estacio- nou em uma casa nas imediações da moradia de Victor, e o fato peculiar chamou a atenção dos vi- zinhos. Logo Vic foi espiar com o pai. Do furgão desceu uma mulher, cabelos louro-avermelhados na altura da cintura, segurando um garoto de cabelos castanhos pela mão. Um homem de terno preto desceu com uma mala, a deixou com desprezo ao lado da porta da casa e retornou ao veículo, dei- xando os dois ali, olhando para a fachada da construção. E logo o furgão arrancou, espalhando cas- calho e fumaça pela rua.
No dia seguinte, Victor foi até a casa com o pai para dar às boas-vindas aos recém-chegados. A mulher entreabriu a porta, e Victor viu o menino espiando pela fresta, mãe acima, ele abaixo. Assim, Seu Carlos conheceu dona Márcia ao mesmo tempo em que Vic conheceu Dan. De forma curiosa, aquele primeiro contato parece ter unido os dois de maneira que palavras jamais fariam. Logo torna- ram-se inseparáveis e a dupla Vic e Dan fez história em Mauá, encantando garotas, divertindo donos de bar, os rapazes eram admirados por todos da pequena cidade.
Victor pensou em tudo isso em segundos, enquanto olhava o sorriso que Dan tanto se esforçou em mostrar. Ele sabia que algo afligia o amigo, mas não quis incomodá-lo. Era a primeira vez em quinze dias que os dois se encontravam, pois o recente e primeiro emprego de Dan o obrigava a fi- car longas noites alerta, entregando e recebendo malotes em um carro-forte de banco. Assim, deci- diu guardar os questionamentos para o dia seguinte, dia de sábado, em que poderiam conversar longamente sob a sombra da jabuticabeira, como sempre faziam.
— É, quem diria... — Victor deu um sorriso verdadeiro. — Parece que esse seu empreguinho está tirando toda a minha clientela.
Os dois riram, e logo se separaram, cada qual se retirando para dentro de casa, no momento em que o sol surgia imponente no céu. 

3 comentários:

  1. Palmas! Sempre muito, muito bom saber que os gene tímido dos escritores ainda não cansou de lançar-se em batalha nesse país de não-leitores.

    Foi um imenso prazer descobrir seu blog :) me canso de procurar quem escreva e não encontrar.
    Ótimo prólogo e prometo continuar a ler amanhã!

    Abraços,
    Daniel Ximenes (da PUC!)

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    Respostas
    1. Po cara, muito obrigado!! É sempre bom receber novos leitores. Fique à vontade para recomendar caso goste a quem você quiser!

      abraços!

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