sexta-feira, 13 de julho de 2012

[Yacamim Livro 1] Capítulos 2 e 3

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Boa noite! Aí vão mais dois capítulos do livro. Espero que gostem. Ah, sei que ler um livro na tela incomoda alguns de vocês... então caso queiram que eu modifique o esquema de cores/fontes para tornar este processo o menos doloroso possível, me avisem, por favor!




CAPÍTULO 2


O rapaz piscou uma, duas vezes. Foi muito difícil abrir os olhos. Pareceu-lhe que tinha acabado de deitar.
— Acorda meu filho, a dona Márcia não tá bem. Tá se debulhando em lágrimas, tentou disfarçar quando me viu chegando do trabalho, mas...
Seu Carlos nem terminou a frase, pois o filho saltou da cama na mesma hora, encarando-o aflito. — Como assim, pai...?
— Eu não sei, parece sério... Ela gosta muito de você, acho melhor dar um pulinho lá. Mas toma a

sua vitamina antes, tá aqui no criado. — indicou com a cabeça um copo roxo enorme, de mais de um litro, cheio de um líquido verde: vitamina de abacate.
— Claro pai, eu vou sim. — Deu um gole sedento na vitamina e completou: — obrigado.
Seu Carlos apenas sorriu para o filho e voltou para a cozinha.
Em minutos, Victor abriu seu armário simples, se vestiu e encaminhou-se para a saída. A mãe de

Dan era uma mulher durona, devia ser algo realmente grave. Apressadamente, ele atravessou a co- zinha, mas quando sua mão ia alcançar a maçaneta, alguém empurrou a porta com violência. O co- ração veio à boca com o susto, mas os reflexos estavam apurados e ele saltou para trás no momen- to certo.
Na entrada da casa estava uma mulher imponente. Tinha feições rijas de alguém com experiência na dor e em provocá-la, pupilas dilatadas e um olhar feroz. Estava vestida com botas negras, uma calça jeans gasta, dois coldres ocupados na cintura e uma jaqueta de couro fechada sob os cabelos muito loiros. Sua postura lembrava a de uma leoa antes do ataque, o peso do quadril apoiado em uma perna, o corpo ligeiramente inclinado, como que pronta para saltar a qualquer momento sobre sua presa.
— Ora, ora, ora... De saída? — A mulher tinha um sotaque diferente, certamente não era da região.
A resposta de Vic parou na garganta, pois, com agilidade impossível, a mulher levantou duas ar- mas: uma pequena, com um dardo na ponta, e outra de aspecto moderno e metálico, engatilhada e mortífera.
— Eu acho que não... — disse a mulher, sorrindo.
Vic achou que era com ele que a intrusa falava, mas acompanhou o olhar dela e viu que Seu Car- los acabara de surgir da dispensa com a espingarda da família nas mãos. Vic gritou com todas as suas forças, mas não saiu som algum. Algo pontudo se fincou em seu pescoço no momento seguin- te, e ele apagou no chão frio e duro da cozinha. A última imagem que sua retina captou foi de seu pai caindo junto com ele, a blusa empapada de vermelho.


CAPÍTULO 3

— Cuidado, coloquem o garoto com cuidado. Eu vou chamá-lo, não acordem esse aí antes dele chegar!
Vic estava parado no alto de uma elevação, observando a paisagem natural. O vento batia em seu rosto, fustigando seus cabelos e olhos, mas ele não se importou, a vista era linda... Havia campos de trigo, que ondulavam em uma sincronia maravilhosa perante a ação da ventania, como se um maes- tro invisível os coordenasse... A cena mudou, e ele agora estava em uma praia, a água molhando seus pés parcialmente encobertos pela areia. As ondas batiam ritmicamente como os compassos de uma música. Vic olhou para trás, e viu um chalé belo, de aspecto aconchegante, fachada longa e com redes por toda a sua extensão. Da casa saiu uma mulher, que veio correndo até ele. Quando seus olhares se encontraram, ela abriu um sorriso sincero e prolongado, como se tivesse passado a vida esperando encontrá-lo ali.
— Oi, Yacamim. Que bom, que bom ver você, afinal!
Ela se aproximou um pouco mais, olhando-o com grandes olhos cor de âmbar, que à Vic pareciam cheios de doçura e carinho.
— Ferris ia gostar de ver você. Ele ainda está a caminho. Lembre-se Yacamim, não importa o que lhe digam, aconteça o que acontecer, a escolha será sua no final....
Ele pensou em dizer para a mulher que não se chamava assim, que nem imaginava do que ela estava falando...
— Boa noite, Victor.
Diante desse chamado, Victor abriu os olhos. Estivera sonhando até então? Que eram aqueles campos? Quem era a mulher?
— Ora, não tema, estou aqui com a melhor das intenções. Lamento pela forma um tanto grosseira com que meus comandados trataram você até então, mas já tratei pessoalmente para que isso não aconteça novamente.
O rapaz olhou em volta. Estava em uma sala ampla, à meia-luz. Uma grande lareira com moldura dourada dominava o fundo do aposento. O homem e ele estavam sentados frente a frente em duas poltronas de luxo, um tapete persa a seus pés e uma mesinha baixa entre eles. Examinou melhor o homem que lhe falava: era corpulento, a cabeça sem cabelo algum. Tinha um brilho de vigor no olhar cinzento, por trás dos óculos de armação prata. Estava vestido em um terno de aspecto caro, sapatos bem lustrados. Só havia os dois no amplo aposento.
— Por favor, peço que não se acanhe. Trouxe-o aqui para que possamos conversar amigavelmente. — O que o senhor quer comigo? Quem é e por que me trouxe até aqui?
— Ora, meu jovem rapaz... Me chame de Vertigo. Lamento dizer que muitas coisas tem sido ocul-

tadas de você ao longo dos anos. A Força acreditou que esta era a melhor opção, dando tempo para que você crescesse sem perturbações. Veja que tolice! — O homem deu uma risada longa e fria, sem emoção — A Companhia e eu sempre achamos que você deveria crescer cercado por nós, para ade- rir à nossa causa, mas não conseguíamos encontrá-lo. Até agora.
Ele estalou os dedos, e Dan foi carregado até a sala. Estava desacordado e tinha os pulsos amar- rados, a boca amordaçada. Colocaram-no ao lado da poltrona de Vertigo, no chão frio, tomando o cuidado de não tocar no tapete persa.
Vic se levantou de um salto.
— Você... O que fez com ele?? Era por isso que a mãe dele estava inconsolável? — Não conseguia se lembrar do que acontecera depois disso, mas sabia que dona Márcia, a adorável mãe de Dan, estava em prantos na manhã daquele dia...
— Acalme-se. —O tom foi leve, mas não foi um pedido. Vic se sentiu impelido a sentar, como que por impulso. — O jovem ao lado trabalha para o banco, não é? Sabendo disto, roubamos a sede no Rio, apenas como distração, de modo que ele foi liberado muito antes do trabalho. Ninguém se im- porta com Mauá, não é mesmo?
Vic não compartilhou do sorriso malicioso dado pelo anfitrião. A cena lhe parecia pavorosa, o ho- mem falando com naturalidade com seu melhor amigo amarrado ao lado.
— Vamos do início, sim? — disse Vertigo. — Você é especial, Victor. Sabe disso, não? Precisávamos encontrar você, por isto trouxemos este rapaz também. — De chofre, o olhar do homem se transfor- mou, como se uma máquina começasse a girar por trás de suas pupilas. Levantou-se agitado e ani- mado. — Junte-se à nossa causa, meu rapaz. Acabaremos com esta patética Força, com você ao nosso lado!
— Não faço idéia do que o senhor está falando... Vertigo. — Vic resolveu não se portar como vítima, tampouco agir imprudentemente. Precisava ganhar tempo, de um plano...
— Ora, ora, é verdade! Não lhe contaram nada, não foi? Pois bem. — Ele tornou a se sentar, cruzou as mãos sobre o colo e olhou dentro dos olhos do garoto. — Vou lhe contar tudo Victor, tudo o que esconderam de você. 

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