sábado, 21 de julho de 2012

[Yacamim Livro 1] Capítulos 4 e 5

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Boa tarde pessoal!


Como vai o final de semana? Espero que estejam animados para ler a sequência do livro! São curtos e fecham o primeiro momento de ação do livro. Sem mais delongas, boa leitura!




CAPÍTULO 4

"Há muitos anos atrás, como você certamente sabe, nosso país entrou em uma longa ditadura. A princípio, esta iria durar apenas alguns meses, no máximo uns poucos anos, para que um novo governo civil se instaurasse. No entanto, isto não aconteceu. Os militares permaneceram no poder, o que gerou a revolta de muitos.
"Este impasse fez com que o governo ditatorial tomasse providencias, e o DOPS entrou em cena, com suas famosas torturas cruéis, espionagens e assassinatos, como em todo regime autoritário.
"Assim, um grupo percebeu que o caminho para a liberdade não mais deveria ser direto. Era preciso fazer reuniões secretas, estudar, buscar uma maneira que não fosse a dos protestos abertos ou a das armas.
"Formou-se, assim, a Liga Brasileira. Religiosos e filósofos juntos em busca de um ideal comum, o direito da liberdade. Veja bem, não estamos falando aqui de quaisquer pessoas, e sim dos adeptos da hélio-hidra, secretíssima religião ligada ao sol e às águas, e filósofos inovadores, decididos a buscar na união com a crença religiosa novos caminhos.
"Passados vários meses e rituais, o mais antigo dos crentes da HH recebeu um dos Supremos. Ali mesmo, bem diante de todos nós. O manuscrito, e todo o futuro do país e da América Latina estava sendo rabiscado diante de nossos olhos. Mais do que uma mensagem, o manuscrito estava indicando a melhor forma de nos prepararmos para a chegada do herói. Que atos heróicos seriam feitos por ele, não sabíamos, pois o Supremo não especificou. Porém, ficou evidente pelos olhares brilhantes que se espalharam pela sala enquanto o manuscrito era lido que todos acreditávamos na vinda daquele que acabaria com a ditadura e nos devolveria a merecida liberdade.
"No entanto, o trem começou a descarrilar alguns meses depois. A Liga estava toda focada nos preparativos para a chegada do herói, quando um abalo fez com que ela rompesse ao meio. Nós, filósofos, debatemos por dias entre nós, e era claro e cristalino de que mais pessoas precisavam saber disso. Era nosso dever iluminar o próximo e permitir que outros bebessem desse saber, desta notícia. Mais do que isso, a felicidade bateu à porta quando contamos a boa-nova para um grupo carioca, interessado em juntar forcas conosco.
"O real problema aconteceu quando eles se mostraram investidores e banqueiros, que queriam na realidade patrocinar a empreitada. Ora, não somos uma rede de negócios ou um mercado de ações para que invistam dinheiro aqui! Estamos seguindo um manuscrito confiado a nós por um enviado Supremo, que certamente não gostaria de ver este nobre trabalho financiado por um grupo de ban- queiros visando lucro e fama!
"Mas os tolos crentes confiaram nos homens do Rio. Uma discussão que pareceu perdurar por anos se iniciou, e por fim, rompemos. Nós criamos a Companhia, um nome que ostenta uma relação de capital que repudiamos, mas que serve como excelente fachada para os nossos reais interesses. Os crentes formaram a Força, um grupo com nobres ideais, corrompido pelo dinheiro.
"De qualquer forma, a criança prometida nasceu pouco depois da divisão. Como previsto, ela nasceu dentro da HH, algo que lamentamos profundamente. Mas não ficamos a ver navios, pois levamos o manuscrito conosco ao deixar a Liga para trás. Temos, desde então, acompanhado os passos do herói, sem conseguir, no entanto, chegar até ele. O dinheiro dos banqueiros foi muito bem em- pregado para esconder a criança. Ontem, porém, a Companhia finalmente conseguiu derrubar as defesas do banco e acessar as peças que faltavam. Houve muito embate, sacrifícios e morte dos dois lados, até que eu pudesse me deleitar com a sua presença aqui hoje, Vic."


CAPÍTULO 5

Victor se sentia dentro de um sonho longo demais. Herói? Ligas, companhias, forças...? Seu melhor amigo amarrado desacordado à sua frente, e um lunático proferindo absurdos com a tranquilidade de um sábio. Ele era apenas um adolescente do interior, acostumado a jogar bola, comer jabuticaba esparramado na grama e ouvir Legião Urbana! Nada daquilo fazia qualquer sentido...
— Portanto, meu jovem rapaz... Desejamos dar continuidade ao seu treinamento. O manuscrito foi bem claro ao dizer que você aprenderia o caminho heróico pelas vias da dor e do sofrimento. Lamento pelo que precisou presenciar e sentir hoje, mas tudo foi para o seu bem e o de todos nós. Era necessário que fosse dessa maneira.
Victor estava tendo dificuldade em acompanhar. Sua consciência ia e vinha, um mecanismo de proteção ante à dor que sentiria se fosse diretamente atingido por aquelas palavras e pelas lembranças do que presenciara. Agora se lembrava do pai caindo junto com ele na cozinha, as roupas rapidamente adquirindo a cor vermelha... Vermelho sangue...
Vertigo continuava falando e sorrindo, lendo em voz alta para o garoto algo semelhante à poesia, mas Vic só captava palavras soltas: destino, pilar, egoísmo... Quando achou que não mais suportaria, um sussurro chamou sua atenção, vindo da janela atrás dele:
— Corra para a janela, agora!
Victor não parou para pensar no que estava acontecendo. Estava rodeado de eventos estranhos e sem sentido, mas não deixaria de seguir seus instintos e valores nem mesmo na mais estranha das situações. Levantou-se, pronto para circundar a mesinha, olhou um momento para Vertigo, que ainda lia as palavras de um papel seguro nas mãos, e então várias coisas aconteceram ao mesmo tempo.
O lustre de teto explodiu, espalhando contas de vidro para todos os lados. Algo entrou no aposento pela lareira e encheu a sala de fumaça. Victor correu, agarrou Dan com todas as suas forças e, sem olhar para os lados, disparou pela sala e atravessou a janela com Dan desajeitadamente nos braços, enquanto um urro gutural foi proferido atrás dele. Preparou-se para duas colisões, mas não houve nenhuma, a janela foi aberta em meio ao caos. A segunda, com o chão, também não ocorreu: aterrissou no banco de um conversível, que logo saiu derrapando pela rua, deixando a casa e Vertigo para trás. 





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