sábado, 17 de novembro de 2012

[Yacamim Livro 1] Capítulos 16 e 17

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Olá, caros! Preparem-se porque aqui os preparativos acabam. Está na hora de começar a ação! o/


CAPÍTULO 16

Mas senhora Silvia, ainda não entendo...
Querida, estamos conversando há quase uma hora, deixe as formalidade de lado. Me chame apenas de Silvia, sim?
Certo, claro...
Amanda e Silvia, a senhora moradora do apartamento, estavam sentadas à mesa da salinha. Clara, totalmente desinteressada do assunto, vendo que ninguém lhe dava um motivo satisfatório para estarem ali ao invés de seguir para enfrentar a Companhia e, principalmente, os Terríveis, desistiu. Estava sentada sob os joelhos em um velho sofá a um canto da sala, digitando distraídamente em um de seus laptops. As mãos dela voavam pelas teclas, mas ela mal parecia prestar atenção, como se estivesse descarregando energia, fazendo uma terapia ao teclar. Já Vic estava encostado na janela, olhando o movimento da rua abaixo deles, refletindo sobre tudo o que havia acontecido até então, e tentando decidir que passo tomar a seguir.
Ah, me desculpe menina, eu ainda não decorei seu nome. Você já me disse, eu sei, mas a idade...
É Amanda, senho... quero dizer, Silvia.
Amanda, sim, sim... é verdade. A senhora tomou o último gole de seu chá. Depois levantou os olhinhos miúdos e admirou a garota-índia. É um nome tão bonito quanto você.
Obrigada respondeu Amanda, levemente constrangida.
Você ainda não entende, não é? Deixe-me explicar. Silvia pousou as mãos no colo e olhou em volta. Era uma senhora simpática, que usava pantufas, saia azul comprida e uma blusa em V sem decote. Os cabelos brancos estavam presos em um coque, e um colar de conchas repousava em seu pescoço. Parecia uma típica senhora, vestida com roupas de senhora, e amistosa como as senhoras costumam ser. Minha diversão, junto com meu marido, era trabalhar na magia e construir níveis cada vez mais avançados dela. Nosso espaço de treino era este apartamento. Com o tempo, ficamos tão bons nisso, que descobrimos ser capazes de afetar todo o prédio. Anos depois, ele, que era mais forte, conseguia interagir comigo, comunicar frases simples ou pequenas ações a quilômetros de distância. Eu e ele treinamos muito e usávamos este apartamento para treinar. Meu marido...

Ih, de novo? Era Clara. Ao ouvir menção pela enésima vez do marido, ela fechara o laptop com força, e agora tinha aquela expressão rabugenta no olhar. Vinha coisa pesada aí. Muito bonita a sua história e tudo, mas você continua girando em círculos aqui.
Como assim? E seu nome é...?
Clara. Eu já lhe disse isso.
Certo, me desculpe. Não precisa se aborrecer.
A senhora ficou levemente chateada, pois fechou a expressão também. Levantou-se da mesa, deixando uma confusa Amanda assistindo à cena, e foi para perto de Vic, talvez sentindo a energia pesar no ambiente próximo à Clara.
Só estou tentando saber começou Clara, sentindo que passou do ponto , há alguns bons minutos, o que diabos estamos fazendo aqui. Por que Vic resolveu que tinha que encontrar a senhora... Como que...
Ei! Era Vic quem falava. Havia se virado de costas para o trânsito lá fora. Encostou-se no vidro e olhou de maneira firme para Clara. Não trate Silvia desta maneira. Ela está apenas lhe dizendo o que você precisa saber. O resto, como os princípios que regem os encantamentos desta casa, precisam ser descobertos por nós, os visitantes. Só assim poderemos permanecer.
Clara olhou para Vic, ainda sem entender. Vic devolveu com confiança o olhar. Amanda continuava confusa, olhando de Clara para Silvia e Vic como se acompanhasse uma partida de tênis. No entanto, Silvia abriu um sorriso enorme, e bateu palmas exaltadas na comemoração.
É isso, isso mesmo! Que bom que você pôde compreender, Yacamim.
Ora, como assim? Exclamou Clara, indignada. Eu passo um tempão gastando a minha saliva com a senhora, e ele entra e a convence em um minuto? Alguém pode me explicar o que...
Eu posso, Clara. Fique calma. Amanda se levantou da mesa e foi se sentar no sofá, ao lado de Clara, que ainda bufava agitada. Como você deve ter visto na fachada, este é o Edifício Tenente Érico. O que você tem caso forme a sigla deste nome?
A sigla...... AAAAAH!!
Clara ficou tão surpresa que escancarou a boca e não conseguiu mais fechar. Olhava de Amanda para Vic, de Vic para Silvia, em profunda surpresa.
Tudo faz sentido agora, não é querida? O supremo terreno conhecido hoje por Eté é meu marido.

***

A senhora quer dizer que ele está vivo? Pode entrar aqui a qualquer momento?
Clara se levantou sobressaltada, teria derrubado o laptop caso Amanda não o agarrasse antes. A garota ruiva percebeu o que quase fez, e agradeceu à amiga com o olhar.
Clara... é Clara, não é? Perguntou de bom humor a senhora. Estou brincando, sei o seu nome. Érico morreu há muitos anos, nos comunicamos em raríssimas ocasiões, infelizmente... mas sei que ele está servindo à Hélio-Hidra da melhor forma, e me orgulho de ser a eterna esposa de um supremo como ele. Mas você precisa se acalmar Silvia olhou para Vic, preocupada. Ela é sempre assim?

Não, não é respondeu Vic. Nem imagino porque ela está tão agitada.
Ah, você não imagina?? Victor, eu tenho a primeira chance em anos de finalmente vingar a morte da minha família, e nós estamos aqui sentados tomando chá! Isso é ridículo!
Ela tinha começado a se acalmar, mas falou isso tudo quase gritando, e muito rápido. Soltou o corpo, afundando no sofá, e cruzou os braços.
Clara, nós...
Tudo bem, Yacamim falou Silvia. Deixe que eu respondo esta.
Ela foi até o sofá e, antes que Amanda pudesse educadamente ceder o lugar, a senhora se sentou
entre as garotas. Em seguida fez um sinal para que Vic se aproximasse. Inesperadamente, tirou de um bolso da saia que havia passado despercebido pelo garoto um charuto. Acendeu. Tinha aroma de baunilha, que logo se espalhou pela sala.
Me desculpem, um velho hábito. Mas é cheiroso, não é? As garotas concordaram. Clara um tanto indiferente e desconfiada, Amanda com um sorriso feliz, como se estivesse em um dia comum conversando com a avó. Vic estava tão surpreso com este súbito hábito da senhora que não respondeu. Eté os chamou aqui para que pudessem descansar para a viagem que farão. Mas, principalmente, chamou para que vocês se protegessem.
Como assim? Perguntou Vic. Tomamos precauções, não estamos sendo seguidos.
Ora, Yacamim, use sua sabedoria... Vertigo esperou muito por este momento para deixar que você escape entre os dedos dele tão facilmente. Vocês estavam sim, sendo seguidos. Neste exato momento, toda a Companhia sabe que vocês estão aqui.
Meu Deus, Vic, nós vamos causar outra explosão... exclamou Amanda, olhando para a expressão dura de Clara, ambas lembrando do apartamento em chamas da hacker e do sacrifício de Dan para que escapassem Vamos correr daqui!
Vic concordou com a cabeça, as meninas estavam se levantando...
Acalmem-se vocês. Vamos, agora mesmo. O tom era enigmático, enfático mas sem ser grosseiro. Eles pararam na mesma posição em que estavam, congelados. Relaxem, pelos céus!
As garotas voltaram a se sentar. Vic voltou para perto do sofá, apenas para contestar.
Silvia, perdemos Dan em situação parecida, precisamos...
Eu sei, Yacamim. Mas não se preocupe. Não ouviu a história que lhe contei sobre o nosso estudo de magia? Como logo o espalhamos para todo o prédio?
A compreensão logo os atingiu.
É claro! Exclamou Clara. Ninguém pode chegar até a gente...
... Porque aqui dentro estamos protegidos pelos encantamentos de Silvia! Completou Vic. ... E pelos meus, é claro afirmou uma voz profunda e masculina.
Todos olharam em volta, até mesmo Silvia se surpreendeu. A voz vinha de Amanda.
Érico! Meu amor, que bom ouvir sua voz!
Eté.

CAPÍTULO 17


Na presença do supremo, Vic pulsava em outro ritmo. Todo o seu corpo reagia à força do Supremo, assim como nos contatos com Apoena e no Jardim dos Manacás. A força divina parecia sempre trazer à tona Vic em sua personalidade plena, no todo de seu potencial, como Yacamim.
Yacamim, como é bom vê-lo à salvo. Você não pode dar à Companhia a vantagem do ataque novamente, não tem energia ainda para atuar na defesa. Por isso os encaminhei pela energia até aqui, onde estarão protegidos.
Clara observava a cena em choque. Toda a cor de sua pele havia ido embora, ela estava branca como cera. Certamente nunca havia presenciado algo como aquilo, e não estava conseguindo absorver. Silvia, encantada por reencontrar o marido, olhava para Amanda com os olhos brilhantes e lacrimosos, mas respeitou o momento com Yacamim e se manteve em silêncio. Como distração, permaneceu olhando e ouvindo Eté, mas apoiou a cabeça de Clara em seu ombro, para confortá-la.
Eté... não podemos ficar aqui. O tempo é curto, podemos perder o rastro.
Não, Yacamim. Você precisa ficar aqui por agora. Saia apenas no cair da noite, é o melhor momento. Darei minha proteção a vocês até que se afastem o suficiente. Não deixem de se disfarçar o melhor que puderem.
Certo. Vic estava com tantos sentimentos confusos, que não conseguia se concentrar inteiramente Eu... eu não sei se estou pronto, se serei capaz...
Yacamim, nós Supremos não temos todas as respostas. Tudo pode dar certo ou errado. Mas não há tempo para a preparação que gostaríamos que você tivesse antes de se confrontar com Vertigo. A invasão platina está muito mais próxima do que pensávamos anteriormente, e a energia tem estado cada vez mais agitada. A escuridão da Companhia tem eclipsado cada dia mais nossa brilhante luz de vida. Não nos resta muito tempo.
Eu sei, mas...
Não irá lhe servir de nada as preocupações sem sentido. Você está tão pronto quanto poderia estar, e um motivo pessoal de amor e perda para lhe mover e dar incentivo.
Sim, Eté disse Yacamim. Você tem toda razão.
Estaremos acompanhando, iremos ajudar quando possível. Agora, descansem. Vocês precisarão partir quando a noite cair...
Para onde vamos, senhor? Perguntou Clara, recuperando a voz.
Ora Clara, tenho certeza de que é exatamente você quem tem a resposta. Oriente-os até o local. Os Supremos estarão com vocês.

***

Era noite. Haviam montado acampamento no fim da serra que ia em direção a Petrópolis. Foram de ônibus até ali, no último horário, usando roupas longas e toucas na cabeça emprestadas por Silvia, encobrindo boa parte dos cabelos dos três, tomando o tempo frio como aliado e dificultando em muito a identificação deles.
Clara estava no meio da barraca, logo abaixo da lamparina, separando cuidadosamente o conteúdo de sua mochila. Aparentemente, ou a garota tinha comportamento oposto quando estava fora de casa, ou a perda do lar fez com que subitamente mudasse seus hábitos. Havia compartimentos internos em cada cantinho da mochila, que se revelou incrivelmente espaçosa aos olhos de Vic e Amanda. Dela surgiram dois laptops, carregadores, cabos diversos, outro rádio modificado, uma bela quantia em dinheiro e muitas, muitas baterias.
Depois de um tempo organizando o material, ela levantou os olhos e viu os dois admirando seu trabalho.
É a minha mochila de emergência. Mantenho-a sempre pronta para imprevistos. Já fiz trabalhos perigosos se sabotagem e invasão para e contra empresas grandes, é sempre bom estar preparada para sair a qualquer momento.
Os dois assentiram. Não tinham nada além da roupa do corpo, parte dela recém-adquirida, e a sacola de Amanda, lotada de suprimentos. Vic se sentia um aspirante a herói com armadura de papelão e arma de plástico. Agora entendia o quanto a Força se desestabilizou pela perda do Banco. Estes pensamentos apenas flutuavam pela mente dele, sem que conseguisse absorver nada daquilo. Dan era o que girava em seu consciente, e cada vez que o amável rosto dele assumia o quadro mental em primeiro plano, uma dor lancinante rasgava o peito dele, acompanhada de uma enorme sensação de impotência. Seu melhor amigo morreu para salva-lo. A Companhia não iria ficar impune.
É melhor irmos deitar informou Clara Precisamos levantar acampamento bem cedo. Quanto estivermos um pouco mais próximos de Petrópolis, volto a captar as comunicações da Companhia.
Por que Petrópolis? perguntou Amanda.
Bom, para triangular a posição da comunicação e poder sintonizar na conversa, horas atrás precisei, além da frequência que Dan me deu, determinar a origem do sinal. E vinha diretamente de lá. Mais precisamente dos arredores da rodoviária.
Amanda assentiu e entrou em seu saco de dormir novo. Vic já estava há tempos no seu, de olhos fechados mas plenamente acordado, travando silenciosas batalhas internas. Clara terminou de organizar seu material, apagou a luz da barraca e se deitou. Tudo o que ouviam agora era o som da mata e de seus insetos, imunes à presença daqueles três em seus domínios. 



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