quinta-feira, 15 de novembro de 2012

[realidade] Mãe

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Bem... prefiro escrever ficção mas de vez em quando é bom falar da realidade. E da vida como ela é. Não quero ser negativista aqui não, acho a vida linda (tenho achado isso cada vez mais nos últimos tempos), cheia de oportunidades, pessoas interessantes, lugares a conhecer, etc etc. Mas a vida começa e termina, e embora a gente saiba que isso vai acontecer a todos, é sempre um momento complicado. Tenho um caso próximo meu então vou falar com todos vocês. Eu sou o cliente no divã e vocês são meus psicólogos, ok?
Bem, acho que só quem já viveu uma situação da perda de um parente próximo sabe como é. Muda muito a sua perspectiva sobre a vida, a noção sobre o tempo que você e os outros têm... a noção de que pode ser de uma hora pra outra. De certa forma, eu aprendi tudo isso quando minha mãe morreu no ano passado, vítima de um acidente de carro. Foi traumático, sofrido e difícil. Ela estava em protocolo de morte cerebral e o processo todo levou praticamente uma semana. Dias e dias de angústia, de visitas ao hospital. Por duas vezes entrei e fiquei ao lado dela, um corpo paralisado e machucado no lugar do que era a minha mãe, maravilhosa, cheia de vida, risonha, engraçada. Pense numa pessoa que não perde uma piada, que tem a melhor risada que alguém pode ter? Alguém que acima de tudo ama você incondicionalmente. E pense em tudo isso apagado de uma hora pra outra.
Nem tudo era flores na minha relação com ela não. Nos últimos anos de vida dela nós nos desentendemos muito. Passavamos vários meses sem nos falar. No último ano e meio de vida ela desenvolveu um transtorno mental e foi dia a dia deixando de ser quem ela era. Em um dia ela era um caco. No outro, era a pessoa mais feliz e eufórica do mundo. Nenhuma das duas era minha mãe, não de verdade. Foi difícil demais acompanhar o processo, e a dor não pára por aí.
Vivenciei de forma distante a luta contra e a favor da vida, enquanto os meses iam passando e ela alternava entre tentativas de suicídio e internações sucessivas. Nem posso imaginar o quão doloroso foi acompanhar isso de perto - para colocar em contexto, ela morava em Brasília, eu no Rio -, mas sei que daqui foi duro, muito duro. Pior ainda porque eu a visitava mais ou menos de três em três meses, e em duas ocasiões quando voltei pro Rio aconteceu uma nova tentativa de suicídio. Isso começou a tirar todo o meu foco da minha vida, eu me sentia deprimido assim que acordava e a sensação me acompanhava ao longo do dia como um convidado indesejado.
Para piorar, a última vez que falei com ela não foi nada feliz. Ela estava no auge dos seus transtornos. Foi por telefone. Eu estava em Brasília, mas na casa dos meus avós maternos - ela na ocasião vivia com um cara em outro apartamento e queria que eu ficasse lá, mas não havia a menor chance de isso acontecer. Era um ambiente impróprio e que não me causava qualquer desejo de permanência. Bem, ela bateu muita boca na ligação, disse que eu estava sendo manipulado por todo mundo. Que todos estavam contra ela, que ela só estava tentando ser feliz. Bem, exigiria uma explicação muito maior para entender porque ninguém apoiava a relação dela, mas basta dizer que o cara era um grosso, que tirou toda a vaidade e liberdade dela, tirou a feminilidade, e por aí vai. Ela virou de uma mulher independente que fazia o que queria, mesmo doente, para um cachorrinho submisso, e ainda mais triste do que antes, embora se recusasse a ver isso. Resolvi eu, espertamente, falar para ela que eu iria passar os dois últimos dias da minha estadia na casa do meu pai. Pronto. Ela ficou revoltadíssima porque pro meu pai eu tinha tempo, para ela não. Fui tentando falar e ela avisando que ia desligar. No terceiro aviso. Ela desligou............. ela desligou para sempre.

Algum tempo depois ela tinha se mudado com o cara para uma cidade no meio do nada. Mas estava infeliz e resolveu bater a poeira, dar uma chance para si mesma. Resolveu voltar para Brasília e para a casa dos meus avós. Entrou no carro com todas as coisas... mas com vários problemas. Tinha tomado remédios pesados - necessários mas que a deixavam sonolenta. Os pneus do carro estavam carecas. Tinha chovido. O carro estava pesado, com muita bagagem. E para completar, ela estava sem cinto. Bom... o carro atravessou a pista depois de rodar e foi pego por um caminhão. O caminhão nada sofreu, por sinal. Já minha mãe... não está mais aqui. E eu prefiro crer que, onde quer que ela esteja, ela está melhor agora. Pelo menos é tudo que eu posso desejar. Mãe, eu não sei onde você está... mas nunca duvide que amo você demais.

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